LIÇÃO 02 – “Noé, o milagre
do livramento e da cura”
12 de outubro de 2014
TEXTO ÁUREO
“Assim foi destruído todo o
ser vivente que havia sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até
ao réptil, e até à ave dos céus; e foram extintos da terra; e ficou somente
Noé, e os que com ele estavam na arca” Gn 7.23
VERDADE APLICADA
Livramento e cura são dois
aspectos pertinentes a salvação, uma graça exclusiva oferecida por Deus aos
seus filhos.
OBJETIVOS DA LIÇÃO
1. Demonstrar a importância
de sermos um milagre de Deus para a nossa geração;
2. Apresentar a necessidade
de trabalharmos naquilo que Deus nos fala para a nossa salvação;
3. Mostrar o valor da
salvação conferida pela graça de Deus para todos os que creem.
Textos de referência
Gn 6.5-7, 17
5 E viu o SENHOR que a maldade do homem se
multiplicara sobre a terra e que toda imaginação dos pensamentos de seu coração
era só má continuamente.
6 Então, arrependeu-se o SENHOR de haver feito
o homem sobre a terra, e pesou-lhe em seu coração.
7 E disse o SENHOR: Destruirei, de sobre a face
da terra, o homem que criei, desde o homem até ao animal, até ao réptil e até à
ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito.
17 Porque eis que eu trago um dilúvio de águas
sobre a terra, para desfazer toda carne em que há espírito de vida
debaixo dos céus: tudo o que há na terra expirará.
INTRODUÇÃO
Diante de uma sociedade
perversa e corrompida, Noé achou graça diante de Deus, e foi escolhido
juntamente com sua família para se tornar o salvador de seu tempo. Sua missão
era construir uma arca, anunciar um dilúvio, e preparar-se para o dia final.
1. Noé, o milagre do
livramento
Nos dias de Noé a corrupção
humana chegou a tal ponto que o Senhor se entristeceu de ter feito o homem (Gn
6.6). Salvar os justos e reiniciar uma nova civilização foi o único meio que
Deus encontrou para aquele mundo imperdoável.
1.1 A
corrupção generalizada daqueles dias
A época de Noé foi marcada
por grandes avanços, o que contraria o pensamento de muitos que veem aquela
civilização como primitiva e recém-saída das “cavernas”.
Havia trabalhos como o
cultivo de sementes e armazenamento de colheitas, e o pastoreio de vários tipos
de animais eram coisas comuns. Porém veio a construção de grandes cidades, a
descoberta da metalurgia, a música e a ciência da guerra, pois havia famosos
valentes da antiguidade (Gn 6.4b).
Estes tais são responsáveis
pela grande corrupção, pois, a mistura da linhagem piedosa com a impiedosa
levou a corrupção que houve naquele período. Deus criou o homem bom e perfeito,
isso significa que ele trouxe uma lei em seu coração, mas o pecado se incrustou
de tal forma na vida humana que Deus não teve outro jeito a não ser destruir
aquela sociedade impiedosa (Gn 6.5-7).
1.2 O juízo de Deus para o fim daquela sociedade
Toda terra foi invadida por
uma onda de maldade tão grande que incomodou os céus. A alma humana ficou tão
contaminada que tudo quanto pensava refletia egoísmo, violência desmedida, e
desprezo às coisas de Deus.
Cremos que deus não permitiu
tais coisas continuassem, porque certamente iriam comprometer o plano
messiânico da redenção, aliás, esse era o verdadeiro propósito de Satanás,
impedir a vinda do Messias. A maldade foi tanta que até mesmo os animais foram
afetados, por isso, disse Deus: “Destruirei o homem que criei de sobre a face
da terra, desde o homem até o animal, até o réptil, e até ave dos céus” (Gn
6.7). Então, o fim daquela geração foi marcado pelo juízo Divino através de um
dilúvio universal que seria o único remédio para aquela situação.
1.3 Noé, o homem com quem Deus contou
De toda aquela geração, o
único justo encontrado por Deus foi Noé (Ez 14.14). Ao contrário de Moisés,
Elias e do Senhor Jesus, Noé não fez milagres, ele foi o milagre em pessoa.
Numa época em que a inversão de valores se tornou comum, o certo era o errado,
e qualquer que fizesse o contrário era humilhado e ridicularizado, podemos
dizer que Noé foi um milagre por inteiro (Gn 6.9). Deus pôde contar com esse
homem, ele não falhou, foi honrado o suficiente para ir contra a correnteza da
maldade, perseverando em fazer a vontade de Deus. Àqueles que defendem que a
linhagem de Sete era santa, veem aqui um fator crítico, visto que ela também se
perdeu em meio a corrupção. Noé, porém, conservava a sua piedade e integridade,
influenciava a sua família, tornando-se assim, um milagre extraordinário de
liderança (Gn 6.8).
2. Os trabalhos de Nóe em
prol da salvação
Não devemos pensar que
somente a justiça de Noé lhe salvaria juntamente com sua família. Sua fé
deveria ser acrescida de obras, ou seja, ele precisava trabalhar por sua
salvação e garantir a vida de tudo quanto Deus lhe confiou (Hb 11.7; Tg
2.14-18).
2.1 Noé recebe instruções
Noé jamais coxeou entre dois
pensamentos, ele sempre esteve atento ao que Deus lhe falou, e trabalhou para
que a vontade de deus se cumprisse, renunciando aos seus prazeres e se tornando
inimigo dos maus feitores (Tg 4.4). O registro do Gênesis é tão impressionante
que demonstra que Noé foi capaz de ouvir não apenas a voz de deus, mas também
foi hábil em atende-la. Noé ouviu da parte de Deus instruções precisas de como
construir uma arca capaz de salvar a sua família, animais e algum outro ser
humano que estivesse disposto a crer nesse tipo de salvação. Para ouvir a voz
de Deus devemos, primeiramente, sufocar outras vozes como: a voz do nosso
coração que sempre gosta de se acomodar ao pecado; as vozes da sociedade
afastada de Deus. Essas vozes contrárias à vontade de Cristo ganham o mundo,
porém, perdem a eterna salvação (Mc 8.36).
2.2 Noé executa
diligentemente às ordens de Deus
Noé recebeu ordens cuja
obediência representava: a salvação da raça humana; a de diversos animais e
também do plano Divino em relação ao Messias. Essa salvação consistiu em
obedecer detalhes minuciosos da construção da arca como: acolhimento dos
animais; a provisão de viveres para sua família e animais, e por fim, a ordem de
Deus para entrar na arca (Gn 6.22; 7.5). Embora fosse Noé o construtor da arca,
a salvação foi um ato da Graça Divina que se consolidou através de sua completa
submissão (Gn 6.8). E aqui cumpre ressaltar essa diligência que é tão aclamada
pelo senhor no sermão profético: cinco virgens prudentes; dos três servos,
somente dois foram fiéis em relação aos talentos a eles confiados pelo seu
senhor; e finalmente, as nações fiéis que serão tratadas como ovelhas na sua
vinda (Mt 25.1-46).
2.3 Noé, o pregoeiro da
justiça
Entre os vários aspectos da
integridade de Noé em seus dias, a Escritura o declara como um pregoeiro da
justiça (2Pe 2.5). Ele denunciava que Deus iria trazer o dilúvio sobre aquele
mundo, e sobre todos aqueles que desprezassem a oportunidade.
Isso se daria, porque de
acordo com as palavras de Jesus os homens comiam, bebiam, casavam e se davam em
casamento o que traduz com perfeição a palavra “ímpio” ou irreligioso. A
postura de Noé como pregador indica a nossa responsabilidade e compromisso em
anunciar o juízo de Deus (2Tim 4.1-5).
3. Noé e o valor da salvação
alcançada por ele
A arca é uma imagem luminosa
de nossa salvação em Cristo (1Pe 3.18-22).
Jesus falou que muitos
estariam desatentos para esse evento, e que Ele viria de forma inesperada, como
um ladrão. Noé já estava na arca quando veio o dilúvio, e nós onde estaremos?
Será que sabemos o valor desse dia?
3.1 O valor do livramento
Assim que vieram as águas do
dilúvio Noé e sua família estavam seguros dentro da arca. A arca foi o lugar
idealizado por Deus para o escape na hora do juízo. Noé alcançou essa grandiosa
salvação através da sua fé, ele vivia numa terra árida e seca onde a chuva
parecia ser uma piada de mau gosto. Enquanto todos viviam despreocupados e
zombando, veio o dilúvio e consumiu a todos. O mais interessante é que a mesma
arca que livra também condena. O tempo se aproxima, Jesus está às portas, e
devemos estar atentos porque como as virgens, muitos estão com as lamparinas se
apagando e dormem acomodados desperdiçando a oportunidade de comprar azeite (Mt
25.7-10).
3.2 O valor da cura
A salvação das águas do
dilúvio significou a eliminação de toda uma civilização. Se fosse nos dias de
hoje seria a eliminação de oito bilhões de pessoas, e aí muitos pensam: Como
Deus foi capaz de condenar tantos assim? Seriam todos culpados de fato? Não
podemos jamais esquecer que Deus é amor; mas também é justiça e juízo (Dt 4.24;
Hb 12.29). No modo de Deus agir, as águas do dilúvio, lavaria a humanidade, que
totalmente suja pelo pecado, apenas manchava o mundo que Ele criou. Todavia, em
meio à sujeira, havia no bom sentido da palavra, alguém para ser aproveitado no
recomeço de uma nova história. Desse modo, Deus, usando de misericórdia deu a
Noé um mundo novo e totalmente limpo por causa de sua Justiça. O mesmo ele fará
conosco, Sua Igreja. Ele purificará esse mundo perverso e nos entregará um novo
céu e uma nova terra (Ap 21.1,4-7).
3.3 O valor eterno
Jamais devemos pensar no
dilúvio como um mero evento natural, mas uma intervenção divina com propósitos
eternos. Alguns cientistas atribuem ao dilúvio meras causas naturais removendo
consequentemente a intencionalidade Divina. Ao salvar Noé e sua família Deus
estava recomeçando a humanidade inteira, pois por ela repovoaria o mundo. Foi
através de Noé e de Sem, que Deus estabeleceu a linhagem pela qual viria o
Messias (Lc 3.36). Fica nítido que a corrupção geral humana foi uma tentativa
de satanás frustrar a vinda do Messias. O dilúvio foi, portanto, a reação
Divina para manter a sua palavra e seu plano de salvação, nisto reside o eterno
valor da salvação. A justiça de deus trouxe o dilúvio e também não poupou os
anjos que se rebelaram contra Deus. Assim, deus os prendeu em prisões
reservando os para o juízo final (2Pe 2.4-5).
CONCLUSÃO
O dilúvio foi o antídoto
para curar a perversão da humanidade; Durante cento e vinte anos ele trabalhou
para garantir a salvação da raça humana, representada apenas por oito pessoas.
Noé foi o milagre de Deus para aqueles últimos dias. Deus quer que façamos o
mesmo em nosso tempo.
Questionário
1.1- Qual o meio encontrado por Deus para tratar
aquele mundo imperdoável?
2.2- O que sentiu o Senhor ao ver uma corrupção
generalizada?
3.3-
Para curar a perversão da humanidade que
antídoto Deus usou?
4.4-
A salvação de Noé consistiu em obedecer a quê?
55- A arca é um símbolo de quem?
Fontes:
Bíblia Sagrada –
Concordância, Dicionário e Harpa - Editora Betel.
Revista: Milagres do Antigo
Testamento – Editora Betel - 4º Trimestre 2014
Comentário Matthew Henry
A Previsão do Dilúvio
Aqui realmente se torna aparente
que Noé achou graça aos olhos do Senhor. A generosidade de Deus para com Noé
foi claramente indicada naquilo que o adorável Senhor disse a respeito dele, w.
8-10. Ali, o nome de Noé é mencionado cinco vezes em poucas linhas, quando uma
vez poderia ter servido para deixar claro o sentido. Era como se o Espírito
Santo sentisse prazer em perpetuar a memória deste servo do Senhor. Mas isso se
torna muito mais aparente no que o Senhor lhe diz nestes versículos - as
informações e instruções que aqui lhe são dadas.
Aqui Deus faz de Noé o seu
homem de confiança, comunicando-lhe o seu propósito de destruir este mundo
iníquo pela água. Posteriormente, o bendito Senhor agiu de uma forma parecida,
revelando a Abraão a sua decisão a respeito de Sodoma (cap. 18.17: Ocultarei eu
a Abraão o que faço?). Portanto, era como se o Senhor aqui dissesse: “Ocultarei
eu a Noé o que faço, visto que ele certamente virá a ser uma grande nação?”.
Note que o segredo do Senhor é para aqueles que o temem (SI 25.14). Ele era
conhecido pelos seus servos, os profetas (Am 3.7) através de um espírito de
revelação que os informava, particularmente, sobre os seus propósitos. O
segredo do Senhor é manifestado a todos os crentes através de um espirito de
sabedoria e de fé, que lhes capacita a entender e aplicar as declarações gerais
da Palavra escrita, e as advertências nela concedidas. Neste ponto:
1. Deus revelou a Noé, sem
entrar em detalhes, que iria destruir o mundo (v. 13): O fim de toda carne é
vindo perante a minha face. Eu os destruirei. Em outras palavras, a destruição
deste mundo maligno está decretada e determinada. É vinda, isto é, ela virá
certamente, e virá rapidamente. E provável que Noé, pregando aos seus vizinhos,
os tivesse avisado, em geral, sobre a ira de Deus que eles trariam sobre si
mesmos devido às iniquidades que praticavam, e agora Deus apoia os seus
esforços através de uma declaração especial de ira, para que Noé pudesse testar
se isso produziria algum efeito neles. Portanto, observe: (1) Que Deus confirma
as palavras dos seus mensageiros, Isaías 44.26. (2) Que para aquele que tem, e
usa o que tem para o bem dos outros, mais lhe será dado, até mesmo na forma de
instruções mais completas.
2. O bendito Senhor lhe
revelou, particularmente, que iria destruir o mundo por meio de um dilúvio de
águas: Veja que Eu, Eu mesmo, trago um dilúvio de águas sobre a terra, v 17.
Deus podia ter destruído toda a humanidade através da espada de um anjo, uma
espada flamejante girando para todos os lados, assim como destruiu todos os
primogênitos dos egípcios e o acampamento dos assírios. E então não era preciso
mais do que colocar um sinal sobre Noé e sua família, para a preservação
destes. Mas Deus opta por fazer isso por meio de um dilúvio de águas, que
deveria deixar o mundo submerso. Os motivos, nós podemos estar certos, eram
sábios e justos, embora desconhecidos para nós. Deus possui muitas flechas em
sua aljava, e Ele pode usar aquela que lhe aprouver: como aquele que escolhe a
vara com a qual punirá os seus filhos, assim Ele escolhe a espada com a qual
eliminará os seus inimigos. Observe a forma da expressão no idioma inglês: “Eu,
Eu mesmo, trago um dilúvio. Eu que sou infinito em poder, e por isso posso
fazê-lo. Eu, que sou infinito em justiça, e por isso o farei”. (1) Isso
expressa a certeza do julgamento: Eu, Eu mesmo, o farei. Isso não pode
efetivamente ser feito a não ser que o próprio Deus se responsabilize por
fazê-lo. Veja Jó 11.10. (2) Aqui fica indicada a inclinação disso em favor da
glória de Deus, e a honra de sua justiça. Desse modo, Ele será engrandecido e
exaltado na terra, e todo o mundo saberá que Ele é o Deus a quem pertence a
vingança. Creio que a expressão aqui é mais ou menos como esta, Isaías 1.24:
Ah! Consolar-me-ei acerca dos meus adversários. Aqui Deus faz de Noé o homem do
seu concerto, outra perífrase hebraica para amigo (v. 18): Mas contigo
estabelecerei o meu concerto. 1. O concerto da providência de que o curso da
natureza prosseguiria até o fim dos tempos, não obstante a suspensão que o
dilúvio lhe traria. Essa promessa foi diretamente feita a Noé e seus filhos,
cap. 9.8ss. Eles eram como depositários para toda esta parte da criação, e uma
grande honra fora, através disso, colocada sobre ele e os seus. 2. O concerto
da graça para que Deus fosse o seu Deus, e que de sua semente Deus tiraria para
si mesmo um povo. Note que:
(1) Quando Deus faz um
concerto, Ele o estabelece, o garante, e o cumpre. Os seus concertos são
eternos. (2) O concerto da graça tem, em si, a recompensa por serviços
singulares, e é a fonte e o fundamento de todas as benevolências especiais para
compensar aquilo que perdemos por amor a Deus, ou para criar uma felicidade
para nós em Deus. Assim, não precisamos desejar mais do que ter o seu concerto
firmado conosco.
Aqui Deus torna Noé um marco
de bondosa misericórdia, ao colocá-lo em uma condição de se proteger do dilúvio
que se aproxima, para que ele não perecesse com o resto do mundo: Os desfarei,
diz Deus, com a terra, v. 13. “Mas faze para ti uma arca. Eu tomarei o cuidado
necessário para te manter vivo”. Note que as devoções singulares serão
recompensadas com redenções especiais, que são, de maneira especial,
obsequiosas. Isso acrescentará muito à honra e à felicidade dos santos
glorificados, de modo que eles serão salvos enquanto a maior parte do mundo for
deixada para perecer. Neste ponto:
1. Deus orienta Noé a fazer
uma arca, w. 14-16. Essa arca era como o casco de um navio, adaptada não para
navegar sobre as águas (não havia razão para isso, pois não haveria nenhuma
costa para onde navegar), mas para flutuar sobre as águas, esperando que a maré
decrescesse. Deus podia ter protegido Noé com a ajuda de anjos, sem colocá-lo
em situações que exigissem dele cuidado, esforço ou preocupação. Mas o precioso
Senhor escolheu empregá-lo na criação daquilo que tinha a finalidade de ser o
meio de sua preservação, tanto para testar a sua fé e obediência quanto para
nos ensinar que ninguém será salvo por Cristo a não ser apenas aqueles que
trabalharem por sua própria salvação. Nós não podemos fazer isso sem Deus, e
Ele não o pode fazer sem nós. Tanto a providência quanto a graça de Deus
reconhecem e recompensam os esforços daqueles que são obedientes e diligentes.
Deus deu a Noé instruções muito específicas com respeito a essa construção, que
só poderia ser admiravelmente bem adequada para o seu propósito se a própria
Infinita Sabedoria fosse o seu arquiteto. (1) Ela deve ser feita de madeira de
Gofer. Noé, indubitavelmente, sabia qual era esse tipo de madeira, embora nós
agora não saibamos se cedro, ou cipreste, ou qual outra. (2) Do lado de dentro,
ele deve construir três andares. (3) Ele deve dividi-la em compartimentos, com
divisórias, lugares adequados para vários tipos de criaturas, para não
desperdiçar espaço. (4) As dimensões exatas foram fornecidas a Noé, para que
ele pudesse construí-la de forma proporcional, e que nela pudesse haver
aposentos suficientes para atender a sua finalidade, e nada mais. Note que
aqueles que trabalham para Deus devem receber dele as suas medidas e
observá-las cuidadosamente. Note, além disso, que é conveniente que aquele que
designa a nossa habitação deva estabelecer as fronteiras e os limites desta.
(5) Ele a cobrirá com betume por dentro e por fora - por fora, para escoar a
chuva, e para impedir a água de se infiltrar - por dentro, para diminuir o mau
cheiro dos animais quando mantidos em recinto fechado. Observe que Deus não
ordena que ele a pinte, mas que a cubra com betume. Se Deus nos dá habitações
que são seguras, aquecidas e saudáveis somos obrigados a lhe ser gratos, mesmo
que estas não sejam magníficas ou as mais belas. (6) Noé deve construir uma
pequena janela no topo para deixar entrar a luz, e (pensam alguns) para que
através dessa janela ele possa contemplar as destruições que serão infligidas à
terra. (7) Ele deve fazer uma porta em um dos lados da arca, para que possa
entrar e sair através dela.
2. Deus promete a Noé que
ele e sua família serão mantidos vivos na arca (v 18): Tu entrarás na arca.
Note que nós mesmos teremos o conforto e o benefício daquilo que fizermos em
obediência a Deus. Se fores sábio, para ti sábio serás. Não apenas ele próprio
estava a salvo na arca, mas a sua esposa, os seus filhos, e as esposas de seus
filhos. Observe: (1) O cuidado dos bons pais. Eles são cuidadosos não apenas
com a sua própria salvação, mas com a salvação de suas famílias, e
especialmente de seus filhos. (2) A felicidade daqueles filhos que têm pais
tementes e obedientes ao Senhor. A devoção de seus pais frequentemente alcança
uma salvação temporária para eles, como vemos aqui. E ela os favorece no
caminho para a salvação eterna, se eles aproveitarem o seu benefício.
Aqui Deus torna Noé uma
grande benção para o mundo, e nessa narrativa faz dele um destacado modelo do
Messias, embora não o próprio Messias, como seus pais esperavam, cap. 5.29. 1.
Deus fez dele um pregador para os homens daquela geração. Como um atalaia, ele
recebeu a palavra da boca de Deus, para que pudesse lhes dar o aviso, Ezequiel
-3.17. Desse modo, enquanto a longanimidade de Deus esperava, através de seu
precioso Espírito, Noé pregava para o mundo antigo, que no texto que Pedro
escreveu foi referido como espíritos em prisão (1 Pe 3.18-20). E aqui Noé era
um símbolo de Cristo, que, em uma terra e em uma época em que toda carne havia
corrompido o seu caminho, continuou pregando o arrependimento e avisando os
homens da chegada do dilúvio da ira. 2. Deus fez dele um salvador para as
criaturas inferiores, para impedir suas várias espécies de perecer e de se
perderem no dilúvio, w. 19- 21. Essa era uma grande honra conferida a Noé que
não apenas nele a raça humana devesse ser preservada, e que dele se originasse
um novo mundo, a igreja, a alma do mundo e o Messias, a cabeça daquela igreja.
Mas que ele fosse providencial para preservar as criaturas inferiores, e,
portanto nele a humanidade alcançasse um novo atributo para si e para os seus
serviços. (1) Noé deveria fornecer abrigo para eles, para que não se afogassem.
Dois de cada espécie, macho e fêmea, ele deveria levá-los consigo na arca. E
para que ele não encontrasse qualquer dificuldade em reuni-los, e fazê-los
entrar na arca, Deus promete (v. 20) que eles viriam a ele por iniciativa
própria. Aquele que faz com que o boi conheça o seu dono e o seu estábulo, faz,
então, com que os animais conheçam o seu protetor e a sua arca. (2) Noé deveria
fornecer comida para eles, para que não tivessem fome, v. 21. Ele deve
abastecer a sua arca, de acordo com o número de sua tripulação, aquela grande
família sobre a qual agora ele tinha a responsabilidade, e de acordo com o
tempo designado para o seu confinamento. Aqui Noé também era um símbolo de
Cristo, a quem é devida a existência do mundo, de quem todas as coisas
dependem, e que impede a humanidade de ser totalmente liquidada e destruída
pelo pecado. Nele a semente sagrada está a salvo, e viva, e a criação está
livre da vaidade sob a qual ela geme. Noé salvou aqueles a quem ele comandaria,
e isto é o que Cristo faz, Hebreus 5.9.
O cuidado e a diligência de
Noé ao construir a arca podem ser considerados: 1. Como uma consequência de sua
fé na Palavra de Deus. Deus lhe havia dito que, em breve, iria inundar o mundo.
Noé creu nisso, temeu a ameaça do dilúvio, e, com esse temor preparou a arca.
Note que nós deveríamos misturar a fé com a revelação que Deus fez sobre a sua
ira contra toda a iniquidade e injustiça dos homens. As ameaças da Palavra não
são alarmes falsos. Muitas coisas poderiam ter sido alegadas contra a
credibilidade desse aviso dado a Noé. “Quem podia acreditar que o sábio Deus,
que criou o mundo, pudesse tão cedo destruí-lo. Que aquele que havia removido
as águas para fora da terra seca (cap. 1.9,10) faria com que elas a cobrissem
novamente? Como é que isso poderia ser reconciliado com a misericórdia de Deus,
que está acima de todas as suas obras? Como se poderia crer, especialmente, que
as criaturas inocentes deveriam morrer pelo pecado do homem? De onde poderia
vir tanta água suficiente para inundar o mundo? E, se deve ser assim, por que
deveria o aviso a respeito disso ser dado apenas a Noé - Mas a fé de Noé
triunfou sobre todas essas argumentações deturpadas. 2. Como um gesto de
obediência às ordens de Deus. Se Noé tivesse se aconselhado com a carne e com o
sangue, muitas objeções teriam sido levantadas contra isso. Erguer uma
construção como aquela, tão grande como ele nunca vira, e de dimensões tão
exatas, requereria dele um grande cuidado, trabalho, e sacrifício. Seria um
trabalho que tomaria tempo. A impressão era que levaria muito tempo para se
realizar. Seus vizinhos o ridicularizavam por sua credulidade, e ele era o tema
da canção dos embriagados. Sua construção era chamada de “A loucura de Noé”. Se
o pior acontecesse, como se diz, todos estaríamos no mesmo barco. Mas estas, e
milhares de outras dificuldades, Noé superou através da fé. A sua obediência era
pronta e decidida: Assim agia Noé, de boa vontade e com ânimo, sem resmungar
nem discutir. Deus diz: Faça isto, e Noé o faz. Noé era também detalhista e
perseverante: ele fazia tudo, exatamente de acordo com as instruções que lhe
eram dadas, e, tendo iniciado a construção, não parou até que a tivesse
terminado. Assim ele fez, e assim nós devemos fazer. 3. Como um exemplo do bom
senso para consigo mesmo, cuidando, dessa forma, de sua própria segurança. Ele
temia o dilúvio e, por isso, preparou a arca. Note que quando Deus alerta sobre
os julgamentos que se aproximam, é uma atitude de bom senso e de dever de nossa
parte nos prepararmos da melhor maneira possível. Veja Êxodo 9.20,21; Ezequiel
3.18. Devemos nos preparar para nos encontrar com o Senhor em seus julgamentos
na terra, correndo para o seu nome como para uma torre forte (Pv 18.10).
Devemos entrar em nossos quartos (Is 26.20,21), preparando-nos especialmente
para encontrá-lo na morte, no julgamento do grande dia. Devemos edificar a
nossa vida sobre Cristo, a Rocha (Mt 7.24). E devemos ir a Cristo, que é a Arca
da salvação.
4. Como um alerta
direcionado a um mundo indiferente. E era um alerta claro do dilúvio que estava
a caminho. Cada golpe de seus machados e martelos era um chamado ao
arrependimento, um chamado para que eles também preparassem arcas. Mas, como
Noé não conseguiu convencer o mundo através dela, ele condenou o mundo através
dela, Hebreus 11.7.
Capítulo 7
Neste capítulo, temos a
realização do que fora previsto no capítulo anterior, tanto no que se refere à
destruição do antigo mundo e à salvação de Noé. Pois podemos ter a certeza de
que nenhuma Palavra de Deus cairá por terra. Ali, nós deixamos Noé ocupado com
sua arca, e cheio de cuidados com a tarefa de concluí-la a tempo, enquanto o restante
de seus vizinhos ria dele por causa de seus esforços. Agora, aqui, vemos qual
foi o fim de tudo aquilo, o objetivo dos cuidados dele e o fim da indiferença
deles. E este famoso período do antigo mundo, nos dá uma ideia do estado das
coisas quando o mundo que agora existe for destruído pelo fogo, assim como
aquele foi destruído pela água. Veja 2 Pedro 3.6,7. Neste capítulo temos: I.
O generoso chamado de Deus
para Noé entrar na arca (v. 1), e trazer as criaturas que seriam preservadas
vivas junto com ele (w. 2,3), em consideração ao dilúvio que estava prestes a
acontecer, v. 4. II. A obediência de Noé à sua visão celestial, v. 5. Quando
ele estava com seiscentos anos, entrou, com a sua família, na arca (w. 6,7), e
levou as criaturas consigo (w. 8,9), um relato que é repetido (w. 13-16) e no
qual é acrescentado o tratamento cuidadoso de Deus para fechar a porta pelo
lado de fora. III. A chegada do dilúvio que havia sido predito (v. 10). Suas
causas (w. 11,12): a prevalência deste, w. 17- 20. IV A terrível desolação que
foi causada por esta calamidade: a morte de toda criatura vivente sobre a
terra, exceto daquelas que estavam na arca, w. 21-23. V Seu prosseguimento em
meio a um mar de águas, antes que a maré começasse a baixar: cento e cinquenta
dias, v. 24.
Noé É Convidado a Entrar na
Arca
Eis aqui: Um generoso
convite a Noé e sua família para um lugar seguro, agora que a completa
inundação estava chegando, v. 1.
1. O chamado em si é muito
gentil, como o de um pai carinhoso a seus filhos, para virem para dentro,
quando vê a noite ou uma tempestade se aproximando: Entra na arca tu e toda a
tua casa, aquela pequena família que tens. Observe que: (1) Noé não foi para
dentro da arca até que Deus o convidasse. Embora soubesse que ela havia sido
designada para ser o seu local de refúgio, ainda assim, ele aguardou uma
renovação da ordem, e a recebeu. É muito reconfortante seguir o chamado da
Providência e ver Deus caminhando à nossa frente a cada passo que damos. (2)
Deus não o manda para dentro da arca, mas convida-o a entrar, indicando que
iria com Noé, o conduziria para dentro dela, o acompanharia nela, e, no devido
tempo, o levaria, em segurança, para fora dela. Note que onde quer que
estejamos, é muito proveitoso ter conosco a presença de Deus, pois ela é o nosso
maior consolo em todas as situações. Foi isto que fez da arca de Noé - que
parecia uma prisão - não apenas um refúgio, mas um palácio. (3) Noé havia feito
muitos esforços para construir a arca, e agora ele próprio era mantido vivo
dentro dela. Note que através daquilo que fizermos em obediência às ordens de
Deus, e na fé, nós próprios teremos com certeza o consolo, no princípio ou no
final. (4) Não apenas Noé, mas também a sua casa. Sua esposa e filhos são
chamados com ele para dentro da arca. Note que é bom pertencer à família de um
homem devoto; é seguro e confortável viver sob tal proteção. Um dos filhos de
Noé era Cam, que posteriormente se mostrou um homem mau. Mesmo assim ele foi
poupado na arca, o que indica: [1] Que filhos iníquos muitas vezes experimentam
o melhor, devido à consideração que o Senhor Deus tem pelos seus pais devotos.
[2] Que há uma mistura do bom com o mau até mesmo nas melhores sociedades na
terra, e não devemos considerar isto estranho. Na família de Noé havia Cam, e
na família de Cristo havia Judas. Não há pureza perfeita neste lado do céu. (5)
Esta chamada feita a Noé foi um modelo do chamado que o Evangelho faz aos
infelizes pecadores. Cristo é uma arca já pronta, o único em quem conseguiremos
estar a salvo quando a morte e o julgamento chegarem. Agora, o refrão da canção
é: “Venha, venha”. A palavra diz: “Venha”. Os ministros dizem: “Venha”. O
Espírito diz: “Venha, entre na arca”.
2. O motivo para esse
convite é um testemunho muito honroso da integridade de Noé: Porque te hei visto
justo diante de mim nesta geração. Observe que: (1) São justos,
verdadeiramente, aqueles que são vistos como justos diante de Deus, que não têm
somente o comportamento piedoso pelo qual parecem justos diante dos homens, que
podem ser enganados com facilidade. Mas aqueles que têm o poder da piedade,
através do qual eles se mostram reconhecidos por Deus, que busca o coração, e
não pode ser enganado pela aparência dos homens. (2) Deus distingue e se apraz
naqueles que são justos diante dele: Te hei visto. Em um mundo de pessoas
iníquas, Deus conseguiu enxergar o único justo, Noé. Aquele único grão de trigo
não podia ser perdido em um grande monte de refugo. O Senhor conhece aqueles
que são seus. (3) Deus, que é uma testemunha da integridade do seu povo, em
breve será uma testemunha a favor do seu povo. Aquele que tudo vê, o proclamará
diante dos anjos e dos homens, para a honra imortal deles. Aqueles que alcançam
a mercê de serem justos obterão o testemunho da sua integridade. (4) Deus fica,
de uma forma especial, satisfeito com aqueles que são bons em tempos e locais
ruins. Noé era, portanto, distintamente justo, pois o era naquela geração
pecaminosa e adúltera. (5) Deus manterá a salvo em tempos de calamidade
generalizada aqueles que se mantêm puros em tempos de iniquidade generalizada.
Aqueles que não tomam parte com outros em seus pecados não compartilharão, com
eles, os seus tormentos. Aqueles que são melhores do que os outros estão, mesmo
nesta vida, mais a salvo do que os outros, e é melhor estar junto a estes.
Neste ponto estão as ordens necessárias que foram dadas com respeito às
criaturas irracionais que deveriam ser preservadas vivas junto com Noé na arca,
w. 2,3. Eles próprios não eram capazes de receber o aviso e as orientações,
como o homem, que aqui é mais instruído do que as bestas da terra e feito mais
inteligente do que as aves do céu - pois ele é investido com o poder da
previsão. Por isso, o homem é responsabilizado pela proteção deles. Estando sob
seu domínio, eles devem estar sob a sua proteção. E, embora Noé não pudesse
defender todos os indivíduos, ainda assim ele deveria preservar cada espécie,
cuidadosamente, para que nenhum grupo, nem o menos importante, pudesse
desaparecer por completo da criação. Observe nisto: 1. O cuidado de Deus para
com o homem, seu consolo e seu benefício. Não notamos que Noé estivesse
apreensivo consigo mesmo quanto a isso. Mas Deus se preocupa com a nossa
felicidade, sim, mais do que nós mesmos. Embora Deus notasse que o mundo antigo
era muito provocador, e antevisse que o novo seria pouco melhor, mesmo assim,
Ele preservou os animais irracionais para o uso do homem. Tem Deus cuidado dos
bois? 1 Coríntios 9.9. Ou, ao contrário, o seu cuidado não visava o benefício
do homem? 2. Até mesmo os animais que não eram cerimonialmente limpos, que eram
os menos valiosos e úteis, foram preservados vivos na arca. Pois os cuidados
afetuosos de Deus são sobre toda a sua obra, e não apenas sobre aquelas que são
mais eminentes e úteis. 3. Todavia, mais animais cerimonialmente limpos do que
não limpos foram preservados. (1) Porque os limpos tinham mais utilidade para o
homem. E, por isso, em benefício do homem é que mais deles foram preservados e
ainda são multiplicados. Graças a Deus que não existem manadas de leões, como
existem de bois, nem rebanhos de tigres, como há de ovelhas. (2) Porque os
limpos eram para o sacrifício a Deus. E, por isso, em glória a Ele, mais desses
foram preservados: três pares para procriação, e o sétimo excedente para
sacrifício, cap. 8.20. Deus nos dá seis por um em coisas terrenas, como na
distribuição dos dias da semana, para que, nas coisas espirituais, sejamos
completamente dedicados a ele. Aquilo que é dedicado à glória de Deus, e
utilizado em seu serviço, é especialmente abençoado e aumentado.
Aqui é dado um aviso da
agora iminente aproximação da inundação: Passados ainda sete dias, farei chover
sobre a terra, v. 4. 1. ‘Ainda se passarão sete dias antes que eu o faça”. Após
os cento e vinte anos se esgotarem, Deus lhes concede um adiamento de mais sete
dias, para mostrar como Ele é tardio a se irar, e que o ato de punir lhe é
estranho. O Senhor também estava lhes dando mais algum tempo para que se
arrependessem. Mas foi tudo em vão. Os homens não souberam aproveitar a
preciosa oportunidade que estavam recebendo. Em sequência a todo o período de
trégua, esses sete dias foram desperdiçados, pois não foram levados a sério
pelos homens. Eles continuaram vivendo uma vida segura e carnal até o dia em
que veio o dilúvio.
2. “Serão apenas sete dias”.
Enquanto Noé lhes falava do julgamento distante, eles eram tentados a postergar
o seu arrependimento, pois ainda levaria muito tempo para que a visão se
cumprisse. Porém agora lhe é ordenado que diga a todos que o Senhor está à
porta, que eles têm apenas mais uma semana para se submeterem, apenas mais um
sábado para aproveitar, para verificar agora se este, por fim, os despertará
para considerarem as coisas das quais dependia a sua paz. De outra forma, todo
o bem logo seria ocultado de seus olhos. Porém é comum que aqueles que foram
descuidados com as suas almas durante os anos em que tinham saúde, ao
contemplarem a morte à distância, se mostrem completamente descuidados durante
os dias, os sete dias de sua enfermidade, mesmo vendo que o seu fim se
aproxima. Eles têm, corações endurecidos pelo engano do pecado.
O Dilúvio
Aqui está a pronta
obediência de Noé às ordens que Deus lhe deu. Observe que: 1. Ele entrou na
arca, ao ser informado de que a inundação viria após sete dias, embora
provavelmente o sinal de sua aproximação ainda não fosse visível, não havendo
nenhuma nuvem ameaçadora no horizonte, e nada que a indicasse. Ao contrário,
tudo continuava sereno e claro. Pois, assim como ele preparou a arca pela fé no
aviso de que a inundação viria, da mesma maneira, ele entrou nela pela fé no
aviso de que ela viria rapidamente, embora ainda não percebesse o início da
ação das causas secundárias. Em cada passo que dava, Noé se movia pela fé, e
não pela razão. Durante estes sete dias, é provável que ele estivesse assentando
a si e a sua família na arca e distribuindo as criaturas em seus diferentes
compartimentos. Esta era a conclusão daquele manifesto sermão que ele, há muito
tempo, vinha pregando aos seus vizinhos negligentes, o qual, seria de se
pensar, podia tê-los despertado. Porém, não obtendo o objetivo desejado, isto
fez com que o sangue deles fosse sobre as suas próprias cabeças. 2. Ele levou
consigo toda a sua família: sua esposa, para ser sua companheira e consolo
(embora pareça que, depois disso, ele não tenha tido filhos dela), seus filhos
e as esposas de seus filhos, para que através deles, não apenas a sua família,
mas o mundo da humanidade pudesse ser construído. Observe que embora os homens
fossem reduzidos a um número tão pequeno, e fosse muito desejável ter o mundo
rapidamente repovoado, ainda assim os filhos de Noé teriam, cada um, apenas uma
esposa, o que fortalece o argumento contra ter muitas esposas. Desde o
princípio deste novo mundo, se seguiu a monogamia: foi assim que Deus fez no
início, e foi assim agora. Ele manteve a mesma regra em vigor. Apenas uma
mulher para cada homem. Veja Mateus 19.4,8. 3. Os animais irracionais
imediatamente entraram com ele. A mesma mão que, no início, os levou para que
Adão lhes desse os seus nomes, agora os levava a Noé, para serem preservados. O
boi conhecia agora o seu possuidor, e o jumento, a manjedoura de seu dono. Além
disso, até as criaturas mais selvagens afluíram para ele. Porém o homem havia
se tornado mais animalesco do que os próprios animais, e não tinha conhecimento,
não entendia, Isaías 1.3.
Eis aqui:
1" A data deste grande
evento. Isto está cuidadosa- JL mente registrado, para uma maior segurança da
história.
1. Foi no 600° ano da vida
de Noé, o que, pelos cálculos, parece ser 1.656 anos após a criação. Os anos do
mundo antigo são contados, não pelos reinados dos gigantes, mas pela vida dos
patriarcas. Os santos são de maior valor para Deus do que os príncipes. Os
justos devem ser mantidos, permanente, em nossa memória. Noé era, agora, um
homem muito velho, mesmo quando se considera a idade que os homens alcançavam
naquela época. Note que: (1) Quanto mais vivemos neste mundo, mais vemos das
misérias e calamidades dele; é por isso que se fala daqueles que morrem jovens
como se o fato dos seus olhos não verem o mal que se aproxima fosse um
privilégio, 2 Reis 22.20. (2) As vezes, Deus exercita os seus servos antigos
com provas extraordinárias de paciência e obediência. Os mais velhos dos
soldados de Cristo não devem ter esperança de serem dispensados de seu combate
até que a morte os libere. Eles devem, ainda, se equipar com a sua armadura, e
não se vangloriar como se a houvessem tirado.
2. O ano do dilúvio foi
registrado. Lemos que ele ocorreu no segundo mês, no décimo sétimo dia do mês,
o que é calculado como sendo aproximadamente o início de novembro. Deste modo,
entendemos que Noé acabara de realizar uma colheita, com a qual abasteceu a sua
arca.
As causas secundárias que
concorreram para este dilúvio. Observe que:
1. Exatamente no mesmo dia
em que Noé foi colocado na arca, a inundação teve início. Note que: (1) Os julgamentos
desoladores não chegam até que Deus tenha providenciado a segurança do seu
próprio povo. Veja cap. 19.22: Nada poderei fazer, enquanto não tiveres ali
chegado. E também vemos (Ap 7.3) que os ventos são contidos até que os servos
de Deus estejam selados. (2) Quando os homens bons são retirados, os
julgamentos não estão distantes. Pois eles são afastados do mal que está para
chegar, Isaías 57.1. Quando eles são chamados para as suas câmaras, escondidas
na sepultura, ocultas no céu, então Deus sai do seu lugar para punir os
iníquos, Isaías 26.20,21.
2. Veja o que foi feito
naquele dia, naquele dia fatal para o mundo dos incrédulos. (1) As fontes do
grande abismo se romperam. Talvez não tenha sido necessária uma nova criação de
águas. Aquelas que já haviam sido criadas, no curso normal da providência, como
bênçãos para a terra, eram agora, através de um ato extraordinário do poder
divino, transformadas em sua destruição. Deus pôs os abismos em tesouros (SI
33.7), e agora Ele desmanchou esses depósitos. Assim como nossos corpos têm em
si mesmos fluídos que, quando Deus permite, se tornam as sementes e fontes de
doenças mortais, da mesma forma a terra tinha entranhadas em si essas águas
que, ao comando de Deus, se levantaram e a inundaram. Deus havia, na criação,
estabelecido barreiras e portas para as águas do mar, para que elas não
tornassem a cobrir a terra (SI 104.9; Jó 38.9-11). E agora Ele apenas removeu
esses antigos limites, montes e barreiras, e as águas do mar voltaram a cobrir
a terra, assim como haviam feito no início, cap. 1.9. Note que todas as
criaturas estão prontas para lutar contra o homem pecaminoso, e qualquer uma
delas está apta a ser o instrumento de sua destruição, se Deus apenas retirar
as restrições através das quais elas são refreadas durante o dia da sua
paciência. (2) As janelas do céu foram abertas e as águas que estavam acima do
firmamento foram derramadas sobre o mundo. Aqueles tesouros que Deus reteve até
o tempo da angústia, o dia da peleja e da guerra, Jó 38.22,23. A chuva que
comumente desce em gotas, naquele tempo veio em torrentes ou jatos, como eles
os chamam nas índias, onde as nuvens são conhecidas por muitas vezes explodir,
como eles dizem por lá, quando a chuva desce em uma torrente muito mais
violenta do que jamais vimos nos maiores aguaceiros. Lemos (Jó 26.8) que Deus
prende as águas em suas densas nuvens, e as nuvens não se rasgam debaixo delas.
Mas agora, o laço era frouxo e a nuvem se rasgou, e chuvas caíram como nunca se
viu antes nem depois, em tamanha abundância e com tamanha continuidade. A densa
nuvem não estava - como normalmente acontece - saturada de umidade (Jó 37.11),
desfazendo-se e enfraquecendo-se rapidamente, exaurindo-se desta forma. Mas as nuvens
sempre voltavam, após a chuva, e o poder divino trazia novos reforços. Choveu,
sem interrupção ou redução, quarenta dias e quarenta noites (v. 12), e isso ao
mesmo tempo, sobre a terra inteira, não como às vezes, sobre uma cidade e não
sobre a outra. Deus criou o mundo em seis dias, mas gastou quarenta dias para
destruí-lo, pois o precioso Senhor é tardio para se irar. Mas, embora a
destruição tenha vindo de uma forma lenta e gradual, ainda assim ela chegou com
eficácia.
3. Nestas circunstâncias,
aprendemos algumas lições: (1) Que todas as criaturas estão à disposição de
Deus, e Ele faz delas o uso
que desejar, quer para correção, ou para a sua terra, ou para algum gesto de
misericórdia, como Eliú fala da chuva, Jó 37.12,13. (2) Que Deus, muitas vezes,
permite que aquilo que deveria ser para o nosso bem estar se torne uma
armadilha, Salmos 69.22. Aquilo que geralmente é, para nós, um consolo e
benefício, se transforma, quando Deus permite, em algum flagelo e em alguma
praga para nós. Nada é mais necessário nem útil do que a água, sejam as fontes
da terra como também as chuvas do céu. Mesmo assim, naquele momento nada era
mais prejudicial, nem mais destrutivo: toda criatura é, para nós, aquilo que
Deus faz com que ela seja para nós. (3) Que é impossível escapar dos justos
julgamentos de Deus quando eles acontecem contra os pecadores com autoridade.
Pois Deus pode armar tanto o céu como a terra contra eles. Veja Jó 20.27. Deus
pode cercar os homens com os mensageiros de sua ira, de forma que, se eles olharem
para o alto, sentirão horror e espanto. Se olharem para a terra, contemplarão
angústia e escuridão, Isaías 8. 21,22. Quem, então, é capaz de ficar diante de
Deus, quando Ele está furioso? (4) Nesta destruição do mundo antigo pela água,
Deus deu uma amostra da destruição final do mundo, que agora acontecerá pelo
fogo. Encontramos o apóstolo contrapondo um contra o outro, 2 Pedro 3.6,7.
Assim como há águas sob a terra, da mesma forma o Etna, o Vesúvio e outros
vulcões, proclamam para o mundo que há fogos subterrâneos também. E o fogo
muitas vezes cai do céu. Muitas devastações são causadas por raios. Deste modo,
quando o tempo predeterminado chegar, a terra e todas as obras que nela há
serão destruídas entre esses dois fogos, assim como a enchente se levantou
sobre o mundo antigo: tanto das fontes do grande abismo como também através das
janelas do céu.
Aqui é repetido o que foi
relatado anteriormente sobre a entrada de Noé na arca, com a sua família e as
criaturas que foram designadas para a preservação. Neste momento:
As palavras são repetidas
para a glória de Noé, cuja fé e obediência se mostraram aqui tão claramente,
através das quais ele alcançou uma boa reputação e que neste relato parecia um
favorito tão grande do Céu e uma bênção tão grande para esta terra.
Aqui se dá atenção aos
animais entrando conforme a sua espécie, de acordo com a expressão utilizada na
história da criação (cap. 1.21-25), para indicar que todas as espécies que
foram criadas no princípio estavam sendo preservadas agora, e não em algum
momento. E que esta preservação era como uma nova criação. Desta forma, pode-se
dizer que uma vida notavelmente favorecida é - como foi naquela ocasião - uma
nova vida.
Embora todas as inimizades e
hostilidades entre as criaturas cessassem por ora - e as criaturas vorazes não
só estivessem tão dóceis e controláveis a ponto do lobo e do cordeiro se
deitarem juntos, mas tão estranhamente alterados a ponto do leão comer palha
como um boi (Is 11.6,7) mesmo assim, quando terminou esta condição - este freio
foi retirado e eles continuaram a agir como de costume. Pois a arca não alterou
a constituição deles. Os hipócritas que alegam fazer parte da igreja, que
exteriormente obedecem às leis desta arca, podem mesmo assim permanecer
inalterados, e então mostrarão, uma hora ou outra, de que espécie são.
É acrescentado (e a
circunstância merece a nossa atenção): O Senhor a fechou por fora, v. 16. Assim
como Noé prosseguia em sua obediência a Deus, Deus também continuava em seu
cuidado para com Noé. E neste ponto, parecia ser um cuidado muito especial.
Pois o fechamento dessa porta estabelecia, adicionalmente, uma parede divisória
entre ele e o mundo todo. Deus fechou a porta: 1. Para lhe dar segurança e
mantê-lo a salvo na arca. A porta deveria ser bem fechada, para que as águas
não invadissem e afundassem a arca, e muito forte para que nada exterior a
derrubasse. Assim Deus criou Noé, da mesma maneira como Ele faz as suas jóias,
Malaquias 3.17. 2. Para excluir todos os outros, e mantê-los de fora para
sempre. Até aqui, a porta da arca se manteve aberta, e, se qualquer um deles,
mesmo durante os últimos sete dias, tivesse se arrependido e crido, que eu
saiba eles poderiam ter sido bem recebidos na arca, Mas agora a porta estava
fechada e eles estavam excluídos de todas as esperanças de aceitação: pois Deus
fechou e ninguém poderia abrir.
Há muito do nosso dever e
privilégio evangélico para ser visto na preservação de Noé na arca. O apóstolo
faz disto uma figura do nosso batismo, quer dizer, da nossa situação abençoada
como cristãos, 1 Pedro 3.20,21. Observe, então: 1. É nosso nobre dever, em
obediência ao chamado do Evangelho, através de uma fé viva em Cristo, entrar no
caminho da salvação, o qual Deus providenciou para os infelizes pecadores.
Quando Noé entrou na arca, ele abandonou a sua própria casa e terras. Assim
devemos nós abandonar a nossa própria justiça e as nossas posses terrenas,
sempre que elas entrarem em competição com Cristo. Noé deve, por algum tempo,
se submeter ao confinamento e às inconveniências da arca, a fim de assegurar a
sua preservação para um novo mundo. Assim, aqueles que aceitam a Cristo para
serem salvos por Ele, devem negar a si mesmos, tanto nos sofrimentos quanto nos
serviços que prestam ao Senhor. 2. Aqueles que vierem para a arca deverão trazer
consigo tantos quantos puderem através de ensinos virtuosos, da persuasão e do
bom exemplo. Donde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher (1 Co 7.16), como
Noé salvou a dele? Em Cristo há lugar para todos aqueles que quiserem estar em
sua doce presença. 3. Aqueles que pela fé aceitam a Cristo, que é a Arca da
salvação, serão, pelo poder de Deus, guardados e mantidos como em uma fortaleza
pelo poder de Deus, 1 Pedro 1.5. Deus colocou Adão no paraíso, mas não o
prendeu. E assim o próprio Adão se desqualificou e causou a sua própria
expulsão. Porém, quando o Senhor colocou Noé dentro da arca, Ele o prendeu. Da
mesma forma, quando o precioso Deus traz uma alma a Cristo, Ele assegura a
salvação dela: isto não está em nosso poder, mas nas mãos do Mediador. 4. A
porta da benignidade logo será fechada para aqueles que agora não a levam a
sério. Agora está em vigor a bondade e a longanimidade: batei e abrir-se vos á.
Mas chegará o tempo em que a porta não se abrirá mais, Lucas 13.25.
Aqui nos é contado:
Por quanto tempo as águas
estiveram subindo - quarenta dias, v. 17. O mundo profano, que não acreditava
que isto pudesse acontecer, provavelmente tenha se persuadido, quando o fato
aconteceu. Os incrédulos podem ter tido esperanças de que as águas logo
diminuiriam e nunca chegariam ao extremo. Mas elas ainda cresciam e
prevaleciam. Note que: 1. Quando Deus julga, Ele sobrepuja tudo e todos. Se Ele
começar, Ele terminará. Seu caminho é perfeito, tanto em juízo como em
misericórdia. 2. As abordagens e avanços graduais dos juízos de Deus, que são
planejados para levar os pecadores ao arrependimento, são muitas vezes
utilizados erroneamente pelos próprios pecadores, e o resultado é que eles se
endurecem em sua arrogância e obstinação.
Até que ponto as águas
cresceram: elas subiram tanto que não apenas as baixas regiões planas foram
inundadas, mas - para fazer um trabalho garantido, e para que nada pudesse
escapar - os topos das montanhas mais altas foram alagados - quinze côvados, ou
seja, sete jardas e meia. Deste modo, em vão se esperaria a salvação nos
outeiros e montanhas, Jeremias 3.23. Nenhuma das criaturas de Deus é tão alta,
mas o seu poder pode se elevar muito acima delas. E o Senhor fará com que todos
saibam que Ele os supera infinitamente naquilo em que se ensoberbecem. Talvez
os altos das montanhas tenham sido sobrepujados pela força das águas - o que
muito ajudou as águas a prevalecerem sobre elas - pois é dito (Jó 12.15) que o
Senhor controla as águas e elas não apenas transbordam, mas transtornam a
terra. Assim, o refúgio das mentiras foi varrido e as águas inundaram o
esconderijo dos pecadores (Is 28.17), e é em vão que eles fogem para elas em
busca de segurança, Apocalipse 6.16. Agora, as montanhas desapareceram e os
montes foram removidos, e nada serviu a um homem exceto o concerto da paz,
Isaías 54.10. Não há lugar na terra tão alto a ponto de colocar os homens fora
do alcance dos julgamentos de Deus, Jeremias 49.16; Obadias 3,4. A mão de Deus
alcançará todos os seus inimigos, Salmos 21.8. Observe com que precisão as
águas são medidas (quinze côvados), não pelo prumo de Noé, mas pelo
conhecimento Daquele que tomou a medida das águas, Jó 28.25.
O que aconteceu com a arca
de Noé quando as águas subiram desse modo: Ela foi levantada sobre a terra (v.
17), flutuava e se movia sobre a superfície das águas, v. 18. Enquanto todas as
outras edificações eram destruídas pelas águas e sepultadas sob elas, somente a
arca subsistiu. Observe que: 1. As águas que demoliram todas as outras coisas,
sustentaram a arca. Aquilo que para os incrédulos é um cheiro de morte para
morte, para os crentes é um cheiro de vida para vida. 2. Quanto mais as águas
cresciam, mais alto a arca era levantada em direção ao céu. Dessa forma, as
aflições santificadas são promoções espirituais. E assim como as dificuldades
abundam, as consolações abundam muito mais.
Eis aqui:
A destruição geral de toda carne
pelas águas do dilúvio. Vinde e contemplai as desolações que Deus faz na terra
(SI 46.8), e como Ele assenta monte sobre monte. A morte nunca triunfou desde a
sua primeira aparição até este dia, como o fez então. Vem e vê a morte sobre o
seu cavalo amarelo, e o inferno que a segue, Apocalipse 6.7,8.
1. Todo gado, aves e
répteis, morreram, exceto os poucos que estavam na arca. Observe como isto é
repetido: toda a carne expirou, v. 21. Toda aquela em cujas narinas estava o
sopro da vida, de tudo que estava em terra seca, v. 22. Toda substância viva,
v. 2-3. E por quê?
O homem só f'izera o mal e
assim, de forma justa, a mão de Deus se levanta contra ele. Porém o que haviam
feito as ovelhas? A esta pergunta, eu respondo: (1) Estamos certos de que Deus
não lhes fez mal. Ele é o soberano Senhor de toda a vida, pois Ele é a sua
única fonte e o seu único Criador. Ele, que as criou conforme lhe aprouve,
podia desfazê-las quando lhe agradasse. E quem poderia lhe dizer: O que fazes?
Será que o Onipotente não tem o direito de fazer aquilo que desejar com aqueles
que lhe pertencem, e que foram criados para o seu deleite? (2) Deus, de maneira
admirável, serviu o propósito de sua própria glória através da destruição, bem
como da criação deles. Neste ponto, a sua santidade e justiça foram muito
engrandecidas. Parece, por conta disso, que Ele odeia o pecado, e está
altamente descontente com os pecadores, quando até mesmo as criaturas
inferiores, por servirem ao homem e serem parte de suas posses, e por terem
sido corrompidas para servir ao pecado, são destruídas com o homem. Isto torna
o julgamento ainda mais extraordinário, mais terrível e, consequentemente, ainda
mais expressivo da ira e da vingança de Deus. A destruição das criaturas foi a
sua libertação da servidão da corrupção, por cuja libertação toda a criação
agora geme, Romanos 8.21,22. Este foi, da mesma maneira, um exemplo da
sabedoria de Deus. Assim como as criaturas foram criadas para o homem, quando
ele foi criado, elas também foram multiplicadas para ele, quando ele se
multiplicou. Portanto, agora que a humanidade fora reduzida a um número tão
pequeno, era adequado que os animais fossem proporcionalmente reduzidos, caso
contrário, eles teriam o domínio e teriam repovoado a terra, e o restante da
humanidade que sobrara teria sido sobrepujado por eles. Veja como Deus levou
isto em conta em outra situação, Êxodo 23.29: Para que... as feras do campo se
não multipliquem contra ti.
2. Todos os homens,
mulheres, e crianças que estavam no mundo (exceto aqueles que estavam na arca) morreram.
Todos (w. 21,23), e talvez eles fossem tão numerosos quanto são hoje sobre a
face da terra, se não mais. Assim sendo: (1) Nós podemos facilmente imaginar
quanto terror e consternação se apossaram deles quando se viram cercados. Nosso
Salvador nos conta, que até no próprio dia em que o dilúvio veio, eles estavam
comendo e bebendo (Lc 17.26,27). Eles estavam mergulhados em despreocupação e
luxúria antes que fossem afogados naquelas águas, clamando por paz, paz para
eles mesmos, que se fizeram de surdos e cegos para com todos os avisos divinos.
Nessa situação, a morte os surpreendeu como em 1 Samuel 30.16,17. Mas, ó que
assombro foi o deles, então! Agora eles vêem e sentem aquilo no que não creram
e nem temeram, e são convencidos de sua loucura em uma ocasião em que é tarde
demais. Agora eles não encontram nenhuma condição para arrependimento, embora a
busquem cuidadosamente com lágrimas. (2) Nós podemos supor que eles tentaram
todos os modos e meios possíveis para sua preservação, mas tudo foi em vão.
Alguns sobem no topo das árvores ou das montanhas, e lá prolongam os seus
terrores por algum tempo. Mas o dilúvio os alcança, finalmente, e eles são
forçados a morrer tendo refletido ainda mais sobre o assunto. Alguns, é
provável, agarram-se à arca, e esperam que aquilo que durante um longo tempo
havia sido a sua diversão, possa agora ser a sua segurança. Talvez alguns
tenham alcançado o teto da arca e conseguido se arranjar ali. Mas ou eles
pereceram lá por falta de comida, ou, através de uma rápida queda, ou ainda um
jato de chuva os tenha arrastado para fora daquele convés. Outros, é possível,
esperavam persuadir Noé a permitir a sua entrada na arca, e alegavam que o
conheciam há muito tempo: Não comemos e bebemos em tua presença? Não ensinastes
em nossas ruas? “Sim”, Noé poderia dizer, “isso eu fiz, várias vezes,
inutilmente. Eu clamei, e vós recusastes. Rejeitastes todo o meu conselho (Pv
1.24,25), e agora não está em meu poder vos ajudar: Deus fechou a porta, e eu
não posso abri-la”. Assim será no grande dia. Alcançar uma posição de destaque
na hierarquia religiosa, ou alegar ter um relacionamento com pessoas boas não
poderá levar os homens ao céu, Mateus 7.22; 25.8,9. Aqueles que não forem
encontrados em Cristo, que é a Arca, serão certamente destruídos, destruídos
para sempre. A salvação em si não pode salvá-los. Veja Isaías 10.3. (3) Podemos
supor que alguns daqueles que morreram no dilúvio ajudaram Noé, ou foram
empregados por ele na construção da arca, e mesmo assim não foram tão sábios a
ponto de, através do arrependimento, garantir para si um lugar nela. Desse modo
os maus ministros, embora possam ter sido instrumentos para ajudar outros a
alcançar o céu, serão lançados no inferno.
Façamos uma pausa por algum
tempo e avaliemos esse espantoso julgamento! Deixemos os nossos corações
meditarem sobre o terror, o terror dessa destruição. Que vejamos e digamos, É
uma coisa terrível cair nas mãos do Deus vivo. Quem pode ficar diante dele
quando Ele está zangado? Que vejamos e digamos: É uma coisa ruim e amarga
afastar-se de Deus. Sem arrependimento, o pecado dos pecadores será a primeira
ou a última causa de sua destruição. Deus sempre foi e sempre será verdadeiro.
Ainda que junte mão a mão, ainda assim o mau não ficará sem castigo. O Deus
justo sabe como trazer um dilúvio sobre o mundo dos ímpios, 2 Pedro 2.5. Elifaz
recorre a essa história como um alerta permanente para um mundo indiferente (Jó
22.15,16): Porventura consideraste a vereda do passado, que pisaram os homens
iníquos? Estes são os que foram arrebatados antes do seu tempo, e enviados para
a eternidade, aqueles cujo fundamento foi submerso pelo dilúvio.
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