Lição 4
JESUS E SUA INTERPRETAÇÃO DA LEI
23 de abril de 2017
Texto do
dia
(Fp 1.27)
"Somente deveis portar-vos dignamente
conforme o evangelho de Cristo [...]."
Síntese
Jesus expôs o que havia de mais profundo na
Lei, pois Ele conhece a finalidade de cada mandamento.
Agenda de
leitura
Segunda - Gl 2.16; 5.3 Lei ou Evangelho. Você
decide
Terça - Lc 6.27-36 Amar o inimigo
Quarta - Lc 6.31 A regra áurea
Quinta - Lc 6.37,38 "Não julgueis" e
a lei da reciprocidade
Sexta - Lc 6.40 Igualdade entre mestre e
discípulo
Sábado - Jo 8.11 A flexibilização da Lei
Objetivos
REAFIRMAR a verdade de que a
justiça dos escribas estava aquém da do Reino;
REVISAR os valores da Lei à
luz da justiça do Reino;
ANALISAR o conceito de
perfeição, na perspectiva do Reino, apresentado por Jesus.
Interação
Qualquer pessoa é capaz de cumprir leis e viver
dentro da ordem mínima estabelecida em sociedade. Vangloriar-se por causa disso
não parece ser algo muito inteligente, pois se trata de uma obrigação de todos
para que a vida em sociedade seja possível. Essa, porém, era a postura de
muitos judeus na época de Jesus. Achavam-se melhores que os outros povos e, até
entre si, disputavam qual dos inúmeros grupos conseguia ser mais ascético e
rigoroso a respeito dos preceitos morais e cerimoniais da Lei mosaica. Em tal
competição, havia a perda do principal valor de toda a lei que é justamente o
amor. Na lição de hoje você terá a oportunidade de trabalhar com os alunos este
assunto e discutir o aspecto motivacional da obediência.
Orientação
Pedagógica
Para esta oportunidade, termine a aula com a
reflexão feita por Cheryl Bridges e Vardaman White acerca da virtude. Eles
dizem que para "que um ato seja virtuoso, a razão e o desejo devem estar
dispostos para o ato. Em outras palavras, se alguém sabe que o ato que está
fazendo é um ato bom, mas deseja fazer alguma outra coisa, então essa pessoa
não agiu virtuosamente. Do mesmo modo, se alguém age de um modo bom, mas não
entende a qualidade moral do ato, então não agiu virtuosamente" (Panorama
do Pensamento Cristão, CPAD, p.301). O que foi dito, filosoficamente, nada mais
é do que o Mestre ensinou a respeito da justiça do Reino que vai além da
observação de regras, da busca de alguma recompensa, do evitar algum castigo,
de se praticar algo inconscientemente ou mesmo uma obediência forçada. A
mudança de perspectiva do súdito do Reino faz com que este veja e encare a
realidade de forma distinta da maneira que fazia antes. Questione-os acerca do
porquê de cada um agir corretamente. Verifique se o fazem por medo de serem
condenados ao inferno, perderem a reputação ou alguma posição, ou se praticam
as coisas de forma correta para serem elogiados, admirados e finalmente salvos.
Finalize dizendo que nenhuma das duas posturas, à luz da justiça do Reino, é
recomendável, pois de acordo com tal justiça, a ação virtuosa deve ser
praticada sem nenhuma motivação a não ser o fato de que esta é a única postura
que deve ser adotada.
Texto
bíblico
Mateus 5.21-48
21 Ouvistes que foi dito aos antigos: Não
matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo.
22 Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem
motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo, e qualquer que
chamar a seu irmão de raca será réu do Sinédrio; e qualquer que lhe chamar de
louco será réu do fogo do inferno.
23 Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar
e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
24 deixa ali diante do altar a tua oferta, e
vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua
oferta.
25 Concilia-te depressa com o teu adversário,
enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te
entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão.
26 Em verdade te digo que, de maneira nenhuma,
sairás dali, enquanto não pagares o último ceitil.
27 Ouvistes que foi dito aos antigos: Não
cometerás adultério.
28 Eu porém, vos digo que qualquer que atentar
numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela.
29 Portanto, se o teu olho direito te
escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se
perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno.
30 E, se a tua mão direita te escandalizar,
corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros
se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno.
31 Também foi dito: Qualquer que deixar sua
mulher, que lhe dê carta de desquite.
32 Eu, porém, vos digo que qualquer que
repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa
adultério; e qualquer que casar com a repudiada comete adultério.
33 Outrossim, ouvistes que foi dito aos
antigos: Não perjurarás, mas cumprirás teus juramentos ao Senhor.
34 Eu, porém, vos digo que, de maneira nenhuma,
jureis nem pelo céu, porque é o trono de Deus,
35 nem pela terra, porque é o escabelo de seus
pés, nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei,
36 nem jurarás pela tua cabeça, porque não
podes tornar um cabelo branco ou preto.
37 Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não,
não, porque o que passa disso é de procedência maligna.
38 Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente
por dente.
39 Eu, porém, vos digo que não resistais ao
mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;
40 e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te
a vestimenta, larga-lhe também a capa;
41 e, se qualquer te obrigar a caminhar uma
milha, vai com ele duas.
42 Dá a quem te pedir e não te desvies daquele
que quiser que lhe emprestes.
43 Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo
e aborrecerás o teu inimigo.
44 Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos,
bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos
maltratam e vos perseguem,
45 para que sejais filhos do Pai que está nos
céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça
sobre justos e injustos.
46 Pois, se amardes os que vos amam, que
galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?
47 E, se saudardes unicamente os vossos irmãos,
que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?
48 Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o
vosso Pai, que está nos céus.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
O Evangelho é superior a qualquer código de
regras, pois o seu fundamento é a Boa Notícia de que, além de nos salvar, Deus,
em Jesus, tornou-se modelo de ser humano para toda a humanidade (Mt 5.48). Esta
é, basicamente, a próxima mensagem e lição do Sermão do Monte. Através de seis
antíteses (teses contrárias; cf. vv.22,28,32,34,39,44), o Mestre demonstra que
a observância mecânica dos mandamentos nada significa se o intento maior não
for alcançado, ou seja, a transformação do caráter e da natureza, extirpando
todo ódio, cobiça, desprezo, falsidade, vingança e egoísmo. Jesus mostra que a
"justiça" dos escribas, doutores da Lei, estava muito aquém do real
propósito da Lei, e também muito longe do que era esperado das pessoas que
diziam crer em Deus como seu Pai (Mt 5.48).
I - NÃO
ODIAR, COBIÇAR OU DESPREZAR
1. Mais que não matar, é preciso não
odiar. De
acordo com a Lei, além de pecado, matar é crime passível de severa punição (Êx
20.13; 21.23-25; Lv 24.21; Dt 5.17). O Mestre, porém, toca no âmago do problema
ao dizer que a raiva gratuita ou mesmo depreciações verbais, frutos do ódio,
são condenáveis (v.22). Como o Templo ainda estava em atividade, Jesus diz que
alguém que sabe que existe uma pessoa aborrecida por sua causa deve, antes de
apresentar sua oferta ao sacerdote, procurar a pessoa em questão e
reconciliar-se com ela, antes que seja tarde demais (vv.23.26 cf. Pv 18.19).
2. Não basta fugir do adultério, é preciso extirpar a
cobiça. Segundo a Lei, o adultério merecia uma punição exemplar e, por isso, os
adúlteros recebiam a pena capital (Lv 20.10 cf. Êx 20.14; Dt 5.18). Jesus,
contudo, ensina que não basta simplesmente não consumar o ato, antes, é preciso
eliminá-lo em seu nascedouro, isto é, no "coração" ou na mente, onde
tudo tem início (v.28). Uma vez mais, o Mestre lança mão de uma figura de
linguagem para falar o quanto pode custar para nós libertar-se de desejos
impuros. Todavia, é melhor livrar-se do prazer momentâneo, que experimentar a
condenação eterna (vv.29,30).
3. Não é suficiente cumprir a
legislação, antes é preciso não desprezar. Apesar de Jesus aludir a uma lei de
Deuteronômio (24.1-4), que tinha como finalidade auxiliar a mulher para que ela
não ficasse desassistida, sua reinterpretação é objetiva (v.32). O Mestre tem
em conta a indissolubilidade do casamento, instituída pelo Criador no início de
tudo, ponto que Ele tratou mais explicitamente por causa da insistência dos
fariseus (Mt 19.1-9). Agindo dessa forma, não se preservava apenas o auxílio e
o amparo necessários à mulher, mas resguardava igualmente o homem, posto que a
separação deixa marcas dolorosas para ambas as partes.
Pense
Você acha correto equiparar a intenção ao ato
propriamente dito?
Ponto
Importante
Antes que qualquer ato se materialize, ou venha
se concretizar, invariavelmente, é precedido de elaboração mental, por isso
Jesus trata do pecado nessa esfera e área.
II - NÃO
JURAR, REVIDAR OU VINGAR-SE
1. Recuperando a credibilidade. Conquanto jurar fosse
prática comum (Lv 19.12; Nm 30.2), Jesus veda toda forma de juramento, quer
apelando para Deus, quer utilizando qualquer outro recurso (o céu, a Terra,
Jerusalém ou mesmo a própria pessoa; cf. vv.34-36). O Mestre ensina que a
palavra deve ser sincera a ponto de corresponder à intenção. Somente assim,
recuperando a credibilidade, é que quando alguém disser "sim" ou
"não", será aceito sem necessidade alguma de qualquer juramento. Para
o Senhor Jesus, tudo o que passar disso é de "procedência maligna" (v.37).
2. Não somente rejeitar a "lei
do talião", mas não revidar e ainda fazer o bem. No mundo antigo era
conhecida a "lei de talião" que, surgida na Caldeia, servia para
inibir os crimes, pois aplicava pena proporcional à violência. A Lei de Moisés
continha regra similar (Êx 21.24; Lv 24.20; Dt 19.21), a qual Jesus faz menção
(v.38). O Mestre, contudo, contrapõe a lógica da retribuição, pois a justiça na
perspectiva do Reino nada tem com a justiça no aspecto das relações sociais,
tal como convencionado pelos homens. É assim que, conforme Ele ensina, ao
prejuízo e perseguição perpetrados por alguém, a resposta deve ser o amor que
constrange (vv.39-41). De maneira semelhante deve-se agir com quem quer algo
emprestado ou solicita mesmo um simples favor (v.42). Tal postura realmente transcendia
qualquer significado que pudesse ter o conceito de justiça na legislação, tanto
do mundo antigo, quanto no mundo de então e até nos dias atuais (Mt 5.20).
3. Não apenas os de "casa",
mas amar igualmente os de fora e até mesmo os "inimigos". De acordo com Levítico
19.18, havia a obrigatoriedade de se amar o "próximo". Entretanto,
"próximo" ali referia-se exclusivamente aos judeus. Nesse sentido, a
antítese de Jesus é profunda e sem precedentes, pois como o "amor" de
Levítico poderia não ser mais que bairrismo ou corporativismo, o Mestre afirma
que somente amando os inimigos, bendizendo quem maldiz, fazendo o bem aos que
odeiam e orando por quem maltrata e persegue, é que alguém pode considerar-se
filho de Deus (vv.44,45). Isso porque, em uma cultura que considerava até mesmo
o nome como algo que deveria seguir a linhagem paterna, não combinava com
alguém que se dizia filho, comportar-se de forma tão diversa do pai (Lc
1.59-63). Assim, Jesus coloca quatro questões reflexivas que os leva a não ter outra
conclusão (vv.46,47).
Pense
Em uma sociedade competitiva, é possível viver
da forma apresentada por Jesus Cristo?
Ponto
Importante
A interpretação do Mestre transcende a mera
observação compulsória da regra, pois atinge o ponto central e a fonte dos
pecados humanos - o nosso "eu".
III -
PERFEITOS COMO O PAI
1. A perfeição. A maior dificuldade com
o versículo final desse capítulo é o significado mais popular da palavra
"perfeição" em nosso idioma: sem defeito algum. Tal ideia faz com que
as pessoas, diante da inevitável realidade de que todos temos defeitos,
sintam-se perplexas e desanimadas.
2. Perfeição na Lei. É interessante notar
que o Mestre propõe, na perspectiva do Reino, o mesmo que a Lei também visava
(Dt 18.13). Isso significa que a intenção do Filho de Deus não apenas convergia
com o grande objetivo da Lei, mas que era a mesma do Pai (cf. Jo 10.30).
3. Perfeitos como o Pai. A perfeição pronunciada
pelo Senhor refere-se a ser íntegro, inteiro e coerente, tal como Deus, o Pai,
o é (2 Tm 2.13; 2 Pe 3.9). Não está em pauta uma exigência de que as criaturas
assemelhem-se ao Criador de uma forma absoluta, o que seria, obviamente,
impossível (Is 55.9). A questão gira em torno da mudança de perspectiva que, só
pode ocorrer de verdade, com uma profunda transformação da natureza e
personalidade de cada um (v.48). Tal processo, é bom lembrar, dura a vida toda
(Ef 4.12,13).
Pense
É possível ser perfeito no plano terreno e em
nosso corpo material?
Ponto
Importante
A perfeição apresentada por Jesus não significa
igualar-nos a Deus, antes, refere-se à identificação natural que cada filho
deve procurar ter com o Pai.
SUBSÍDIO
Jesus interpreta a Lei (5.21-48)
"Jesus [...] realiza o que todo rabino
deseja fazer: 'cumprir' a Lei no sentido de prover uma explicação fiel, exata e
confiável do verdadeiro significado da Lei. Com esta compreensão, vemos uma
nova força em tudo o que vem a seguir. Mesmo o menor dos mandamentos não deve
ser desrespeitado; a participação no reino dos céus exige uma justiça que
'excede a dos escribas e fariseus' (5.20). Isto é significativo, pois os
escribas e fariseus eram conhecidos pela sua condescendência escrupulosa com
até mesmo a mais obscura proibição bíblica. Neste ponto Jesus chama a atenção
de seus ouvintes para os mandamentos e costumes familiares. Em cada um dos seis
exemplos que se seguem, Jesus mostra que a Lei que proíbe uma ação, na
realidade condena a atitude que suscitou essa ação! A justiça que a Lei
verdadeiramente exige é uma justiça insuperável? uma pureza interior que
purifica tão completamente, que não existe nem o menor desejo de fazer o mal.
Assim, o verdadeiro significado da Lei, o significado de 'cumprir', é visto na
sua revelação de uma justiça que se baseia em uma transformação interior, uma
justiça que nenhuma mera observância de regras e regulamentos pode conceder.
Para participar desta expressão do reino dos céus a pessoa deve modificar-se
interiormente! De nenhuma maneira isto elimina a Lei, que regula as ações. Ao
contrário, isto cumpre a Lei, mostrando como as exigências e regras da Lei dão
testemunho da exigência definitiva de Deus: um caráter moral impecável e
transformado" (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo
Testamento. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, pp.25-26).
ESTANTE
DO PROFESSOR
RICHARDS, Lawrence O. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
CONCLUSÃO
A perfeição mencionada por Jesus demonstra
claramente o que é mais importante na Lei, e na perspectiva do Reino, qual
seja: as intenções. Tal justiça excede a dos escribas, doutores da Lei (Mt
5.20). Isso porque ser íntegro não apenas nas ações, mas também nas intenções,
faz com que nos pareçamos com o Pai celestial.
Hora da revisão
Qual é o fundamento do Evangelho?
A Boa Notícia de que, além de nos
salvar, Deus tornou-se modelo de ser humano para toda a humanidade (Mt 5.48).
Onde o pecado tem início?
No "coração" ou na
mente.
Acerca do divórcio, Jesus diverge do que
prescrevia a Lei. Isso representa um prejuízo ou um benefício para as mulheres?
Explique.
Um benefício, pois não se
preservava apenas o auxílio e o amparo necessários a mulher, mas resguardava
igualmente o homem, posto que a separação deixa marcas dolorosas para ambas as
partes.
O que é perfeição na perspectiva de Jesus?
Refere-se a ser íntegro, inteiro
e coerente, tal como Deus, o Pai, o é.
Como é possível ser "perfeito" como o
Pai?
Com mudança de perspectiva que,
só pode ocorrer de verdade, com uma profunda transformação da natureza e
personalidade de cada um (v.48). Tal processo, é bom lembrar, dura a vida toda
(Ef 4.12,13).
Fonte: CPAD, Revista, Lições
Bíblicas Jovens, professor, O Sermão do Monte – A Justiça sob a Ótica de Jesus, Comentarista César Moisés Carvalho, 2º
trimestre 2017.
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