Lição 3 A
LEI E A JUSTIÇA NO REINO
16 de abril de 2017
Texto do
dia.
(Rm 10.4)
"Porque o fim da lei é Cristo para justiça
de todo aquele que crê."
Síntese.
A postura de Jesus em relação à Lei ensina-nos
como deve ser o comportamento de todo aquele que se tornou seu discípulo.
Agenda de
leitura
Segunda - Lc 16.17 A Lei cumprida integralmente
Terça - Mt 11.13; Lc 16.16 A duração da Lei
Quarta - Rm 13.10 O cumprimento da Lei
Quinta - Rm 13.8 Quem ama, cumpriu a Lei
Sexta - Rm 14.17 O que o Reino de Deus não é
Sábado - Rm 13.5 Obedecer pela consciência
Objetivos
ESCLARECER a validade atribuída
por Jesus à Lei e a consideração que Ele tinha por ela;
SUBLINHAR a perspectiva de
Cristo acerca da Lei e do exercício do ensino;
DISTINGUIR as três justiças que
são abordadas pelo Mestre no Sermão do Monte.
Interação
Com propriedade já foi dito que saímos de uma
época em que "tudo era pecado" e adentramos outra, bem pior, onde
"nada é pecado". Não obstante, tais extremismos serem exemplificados
pelo binômio "Lei X Graça", tal divisão não procede da Bíblia, e sim
de uma banalização de ambos os conceitos. Somos habituados aos extremos, por
isso, acabamos não entendendo que a Lei não servia para proporcionar salvação,
mas para proteger a própria pessoa, de si e dos outros, normatizando a vida em
sociedade, pois isto também agrada a Deus. De igual forma, com o primeiro
advento de Cristo, não houve uma abertura permissiva como se vê agora, pelo
fato de a salvação não ser mérito pessoal de ninguém, pudéssemos fazer o que
bem entendemos. Quem foi alcançado pela graça de Deus sente-se constrangido a
fazer as coisas certas, não para alcançar a salvação, mas justamente por ser salvo.
No que se refere à postura de Jesus a respeito da Lei, não há nenhuma
contradição, pois a legislação mosaica, por não ter sido integralmente cumprida
por nenhum ser humano, receberia do Filho de Deus sua completude e acabamento,
daí porque Ele afirmar que não veio para aboli-la, e sim cumpri-la.
Orientação
Pedagógica
Na aula de hoje você terá oportunidade de
abordar, no Tópico III, a importante questão dos três tipos de justiça
ensinados no Sermão do Monte. A audiência de Jesus é composta por, no mínimo,
três públicos distintos. É interessante que tal distinção seja feita, pois
muita confusão ocorre por causa da falta de entendimento desta realidade. Uma
vez que a "justiça do Reino" vai além das outras duas, é importante
perguntar: A diferença é quantitativa ou qualitativa? Após esta inquirição
inicial, apresente o quadro abaixo (de acordo com as suas possibilidades) e
deixe bem claro as diferenças de abordagem do texto bíblico, dizendo que nas
lições seguintes serão realizados os devidos desdobramentos.
Os três diferentes tipos de Justiça e seus
respectivos públicos:
TEOLÓGICA – ESCRIBAS - 5.21-48
"PIEDOSA" – FARISEUS - 6.1-18
REINO – DISCÍPULOS - 6.19-7.27
Texto
bíblico
Mateus 5.17-20
17 Não cuideis que vim destruir a lei ou os
profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir.
18 Porque em verdade vos digo que, até que o
céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja
cumprido.
19 Qualquer, pois, que violar um destes menores
mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no Reino dos céus;
aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus.
20 Porque vos digo que, se a vossa justiça não
exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Muitos comentaristas e estudiosos da Bíblia
afirmam que os quatro versículos do texto bíblico acima são os principais do
Sermão do Monte, pois revelam a finalidade do ensinamento do Mestre. É
importante observar que Jesus não desconsidera a Lei, mas afirma que veio
completá-la. Ele ainda adverte para os perigos de se violar os mandamentos e
ensiná-los de forma deturpada, mas também fala da honra de cumpri-los e
ensiná-los corretamente. Ao final resta-nos, como discípulos dEle, o desafio de
viver instruídos sob outra perspectiva, distinta da legalista e burocrática da
religião. Na verdade, o desafio é assumir a perspectiva do Mestre que, disse
Ele claramente, não veio fazer a sua vontade, mas a do Pai que o enviou (Jo
5.30).
I - JESUS
E SUA RELAÇÃO COM A LEI
1. Abolição ou completude da Lei. À crítica infundada dos
mestres de Israel de que Jesus desfazia da Lei, o Filho de Deus respondeu que
não veio abolir a Lei ou os Profetas, ou seja, desfazer esses textos e seus
ensinamentos, antes, uma parte de sua missão era justamente completá-la (v.17
cf. Rm 10.4). "Completar" aqui nada tem com reparar, antes significa
dar-lhe pleno cumprimento.
2. A validade da Lei. A afirmação do
versículo 18 deve ser lida tendo em mente que o Mestre utilizava figuras de
linguagem, entre elas a hipérbole, que consistia em exagerar na expressão de
uma ideia para demonstrar o seu valor (Mt 19.24-26). Assim, o Mestre refere-se
à passagem do céu e da Terra, bem como ao conteúdo da Lei, mencionando o jota,
isto é, o yod que é a menor letra do alfabeto hebraico, e fala de um
"til" que, no contexto do versículo, alude a um tracinho que, para
nós, seria como uma vírgula; tudo para expressar o seu respeito pela Lei e
também o quanto ela falava dEle (Lc 24.44).
3. Jesus e o cumprimento da Lei. É importante perceber
que nos versículos 17 e 18, Jesus está falando de sua relação com a Lei. Dessa
forma, Ele assinala que até mesmo o "céu e a terra passarão, mas [as suas]
palavras não hão de passar" (Mt 24.35). Em outros termos, até que tudo que
a Lei requer idealmente não tenha encontrado a sua plenitude definitiva, nada
de escatológico acontecerá, nenhuma "transformação" deve ser esperada
na Terra e muito menos no céu.
Pense
De que forma o Senhor Jesus
"completou" a Lei?
Ponto
Importante
Tendo Jesus Cristo cumprido toda a Lei,
resta-nos saber qual deve ser o nosso relacionamento com ela.
II -
ENSINO E RECONHECIMENTO
1. A Lei na perspectiva de Cristo. No versículo 19, o
Mestre antecipa a responsabilidade que cada discípulo deve ter no que diz
respeito à ressignificação que Ele dará à Lei. Todos os "mandamentos"
a que o Senhor se referiu deverão ser observados a exemplo dos grandes princípios
que Ele extraiu de cinco dos mandamentos, demonstrando com isso que obedecer a
Deus vai muito além da observância mecânica de regras (vv.21-48).
2. "Maior" e
"menor" no Reino. O Senhor utiliza uma linguagem corrente entre os discípulos
para despertar a atenção (Mt 18.1-4; Mc 9.33,34; Lc 9.46). Comparando esse
texto com os ensinamentos do Mestre em outras oportunidades, é perceptível que
Ele não apoia qualquer tipo de disputa que resulte em distinção entre as
pessoas (Jo 17.20.23).
3. O ensino no contexto do Sermão do
Monte. A
ideia de que o ensino pode ser meramente teórico e sem implicações práticas na
vida das pessoas parece estranha na perspectiva e no contexto do Sermão do
Monte. O Mestre fala de pessoas que "violam", ou transgridem, e
ensinam os outros a fazer o mesmo através de sua prática e também da teoria. De
igual forma, Ele destaca a posição dos que praticam corretamente e assim também
instruem os outros a fazer o mesmo (v.19).
Pense
O que você acha de alguém que ensina
corretamente e age de maneira errada? E vice-versa?
Ponto
Importante
É imprescindível entender que Jesus utiliza
figuras de linguagem e lança mão de expressões e costumes de sua época para
ensinar grandes lições.
III - A
JUSTIÇA NA PERSPECTIVA DO REINO
1. O ensino fundamental do Sermão do
Monte. A
expressão "justiça", utilizada por Jesus no versículo 20, só pode ser
plenamente entendida à luz dos princípios que serão expostos na sequência
(vv.21-48). Entretanto, fica subentendido que ela significa algo como a
motivação íntima que orienta cada um a fazer aquilo que é certo ou que se julga
correto. A mesma expressão, e com o mesmo significado, pode ser encontrada em
outras partes desse mesmo Evangelho (Mt 3.15; 5.6,10; 6.33; 21.32).
2. Ultrapassando a "justiça
farisaica". A
justiça dos discípulos deve ultrapassar a dos escribas e fariseus, ou seja,
eles devem ter motivos mais nobres para observar os princípios, ou mandamentos,
da Palavra de Deus. A motivação para se viver corretamente não pode vir de
qualquer desejo de ser premiado e nem por medo algum de ser punido. Tampouco a
referência de Jesus diz respeito à quantidade, antes, tem a ver com o aspecto
qualitativo com que se obedece, isto é, com a disposição correta do coração
(cf. Mt 7.15-23).
3. Três tipos de justiça: teológica,
"piedosa" e do Reino. Apesar de parecer estar em pé de igualdade,
escribas e fariseus são dois grupos distintos: os primeiros são os
"teólogos" da época, intérpretes autorizados da Lei; ao passo que os
segundos, são leigos piedosos, provenientes de todas as camadas sociais. Assim,
para ambos os grupos há diferentes espécies de "justiça". A dos
escribas será contrastada nos versículos 21 a 48. Já a dos fariseus será objeto
de análise do Mestre no capítulo 6, versículos 1 a 18. Finalmente, o último
tipo de justiça, a do Reino, e, portanto, dos discípulos, vai do capítulo 6,
versículo 19 até o capítulo 7, versículo 27.
Pense
É possível agir corretamente mesmo que as
motivações sejam erradas?
Ponto
Importante
O discípulo, ou cidadão do Reino, não pode viver
instruído por motivações de prêmio ou de castigo
“A justiça dos discípulos deve ultrapassar a
dos escribas e fariseus, ou seja, eles devem ter motivos mais nobres para
observar os princípios, ou mandamentos”.
SUBSÍDIO
1
"Jesus É o Cumprimento da Lei (5.17-48)
Os oponentes de Jesus o criticavam por não
guardar as minúcias das observâncias tradicionais da lei judaica. Aqui Jesus
deixa claro que Ele não está ausente para destruir a lei, mas para cumpri-la e
até intensificá-la. Ele fixa padrões mais altos. Seu principal interesse é a
razão de a lei existir; Ele insiste que guardar a lei começa com a atitude do
coração. Por este princípio Jesus afirma simultaneamente o valor das pessoas e
da lei. Neste aspecto Ele cumpre a lei antecipada por Jeremias: 'Porei a minha
lei no seu interior e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus, e
eles serão o meu povo' (Jr 31.33b).
Como sucessor de Moisés, Jesus dá a palavra
final na lei. Mas o que Ele quer dizer quando fala que cumpre a lei? Não
significa que Ele simplesmente a observa. Nem quer dizer que Ele anulou o
Antigo Testamento e as leis (como sugerido por Márcion e os hereges gnósticos).
A obra de Jesus e sua Igreja está firmemente arraigada na história de salvação.
Em certo sentido, Jesus deu à lei uma expressão mais plena, e em outro,
transcendeu a lei, visto que Ele se tornou a corporificação do seu cumprimento.
Mateus vê o cumprimento da lei em Jesus semelhantemente ao cumprimento da
profecia do Antigo Testamento: O novo é como o velho, mas o novo é maior que o
velho. Não só o novo cumpre o velho, mas o transcende. Jesus e a lei do novo
Reino são o intento, destino e meta final da lei" (ARRINGTON, French L.;
STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. 2.ed.
Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p.44).
SUBSÍDIO
2
"O Princípio Básico (5.17-20)
Note o fraseado enfático de Jesus em não abolir
a lei (Mt 5.18). A expressão 'em verdade vos digo que' aparece no começo das
declarações mais enfáticas de Jesus. Esta palavra grega (amen) é a transliteração
para o grego da palavra hebraica que Jesus falou, e é linguagem cristã
especializada, denotando afirmação sagrada. Jesus assevera que nem um jota, a
menor letra, nem uma serifa ou adorno numa letra, de nenhuma maneira passará
até que tudo se cumpra.
Parece que a maneira na qual Jesus cumpre a lei
varia de acordo com o tipo da lei. Muitas leis rituais foram completadas no
sacrifício de Jesus (cf. a carta aos Hebreus) e então já não precisam ser
observadas. O próprio Jesus considerou as leis dietéticas cumpridas, uma vez
que a corrupção vem do coração (Mc 7.18,19; At 10.10-16; Gl 2.11-14). Outras
leis são cumpridas na reinterpretação e reaplicação de Jesus no espírito de uma
lei internalizada profundamente sentida, como ocorre nas interpretações
revolucionárias que Ele dá da antiga lei apresentada nas seções seguintes de
Mateus 5.
A pressuposição de que Jesus estava perpetuando
o mero legalismo e elevando o lance legalista evapora-se no calor da
advertência de Jesus encontrada no versículo 20: 'Porque vos digo que, se a
vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrarei no
Reino dos céus'. A questão era a qualidade e fim da lei, e não sua
quantidade" (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário
Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. 2.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004,
pp.44-45).
ESTANTE
DO PROFESSOR
ROBERTSON, A. T. Comentário Mateus &
Marcos. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
CONCLUSÃO
Mateus revela Jesus como Mestre da Palavra e da
ação. Enquanto no Sermão do Monte Jesus é o ensinador da Palavra, nos capítulos
seguintes Ele aparece curando e libertando pessoas. Além disso, o Mestre
cumpriu a "justiça" tal como ensinava os seus seguidores a cumprir
(Mt 3.15), deixando um grande exemplo de harmonia e coerência entre discurso e
ação (Lc 24.19).
Hora da revisão.
O que Jesus quis dizer quando falou que veio
"cumprir a Lei"?
Ele veio completá-la, isto é,
dar-lhe pleno cumprimento.
Por que o Mestre utiliza as expressões
"maior" e "menor"?
Para despertar a atenção dos
discípulos cuja linguagem corrente era esta.
O que significa justiça no contexto do Sermão
do Monte?
Significa algo como a motivação
íntima que orienta cada um a fazer aquilo que é certo ou que se julga correto.
Qual deve ser a motivação para se fazer o que é
certo e agir corretamente?
A motivação para se viver
corretamente não pode vir de qualquer desejo de ser premiado e nem por medo
algum de ser punido.
Jesus falou de justiça na perspectiva do Reino,
porque havia outros tipos. Cite os três tipos de justiça.
A dos escribas, a dos fariseus e
a do Reino.
Fonte: CPAD, Revista, Lições
Bíblicas Jovens, professor, O Sermão do Monte – A Justiça sob a Ótica de Jesus, Comentarista César Moisés Carvalho, 2º
trimestre 2017.
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